Cabral recebeu R$ 27,5 milhões em propina por fábrica em Piraí, diz delator

Ex-governador teria negociado com executivos no Palácio, segundo Ricardo Saud. Delator disse que verba foi usada na campanha de Pezão, mas que governador não participou.
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Ex-governador teria negociado com executivos no Palácio, segundo Ricardo Saud. Delator disse que verba foi usada na campanha de Pezão, mas que governador não participou.
Novas revelações da delação premiada dos executivos da J&F, do empresário Joesley Batista, mostram que Ricardo Saud, diretor de relações institucionais do grupo, contou aos procuradores que conseguiu uma fábrica novinha para o grupo sem pagar um centavo para a antiga dona, a BRF. Conseguiu graças ao ex-governador Sérgio Cabral, como mostrou o RJTV nesta sexta-feira (19). O preço: R$ 27,5 milhões em propinas, de acordo com o delator.
Ainda segundo Saud, o dinheiro foi usado na campanha de Luiz Fernando Pezão para o governo do estado.
Veja trechos da delação:
Saud: Primeiro eu vou falar com a gente conheceu Sérgio Cabral. Um dia, o Sérgio Cabral ofereceu um almoço pro Joesley no Palácio Guanabara. Isso nós estamos falando de 2012, meados de 2012. Nós fomos para o almoço. Fomos eu, o Joesley, o presidente da Vigor, o presidente da Seara, acho que o Wesley estava também. Teve um almoço lá para nós, uma cozinheira francesa, muito chique, naquele palácio imponente.
Pergunta: Guanabara?
Saud: Guanabara. Nesse encontro estavam, vou falar o nome de três secretários de estado dele aqui, eu nunca tive qualquer tipo de negócio com nenhum dos três, tá? O meu negócio todos foram tratados diretamente com o Sérgio Cabral. Não tratei propina com ninguém, só com o Sérgio Cabral. Que é da Agricultura, o Christino Áureo, que tava na reunião, tava a Conceição [Maria da Conceição Ribeiro], presidente do Codin [Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio], e o Julio Bueno, que era o secretário de desenvolvimento econômico e novos investimentos. Então, nós ficamos de prospectar novos negócios. Eu fiquei pela parte da holding J&F, e esses três, o Julio Bueno, a Conceição e o Christino Áureo, de mostrar pra gente o que o estado tinha de interessante.
Nós começamos a rodar o estado, começamos a fazer, o que tinha de vantagem, o que não tinha. Estudamos toda a participação. Aí, de cara, nós pedimos incentivo pro leite, porque a Vigor vendia muito lá, mas pagava uma taxa muito alta. Entramos com um pedido no Codin, o Codin negociou. Acabamos obtendo êxito. Só que nisso, em Piraí, uma cidade do município do Rio de janeiro.
Pergunta: Do estado?
Saud: Desculpe, do estado. Tinha uma fábrica pronta lá numa área maravilhosa de 400 mil metros quadrados e já tinha entre 18 e 19 mil metros construída. Isso estava pronto lá já fazia mais de dois anos, ia fazer três anos, em Piraí. Gerou uma expectativa muito grande no Estado.
Pergunta: Essa fábrica? Estava parada?
Saud: Parada. Uma fábrica novinha, já com uma parte de equipamento montada e começando a deteriorar com o tempo. Essa fábrica era da BR Food. E a BR Food tinha um prazo, porque ela ganhou um incentivo muito grande do estado do Rio e ganhou uma área de 400 mil metros. E na lei falava que se não fosse construída e posto em funcionando num prazo x, o estado poderia pedir pra trás essa fábrica e doar a quem de direito interessava. Eu fui no Sérgio Cabral, falei: ‘Pô, Sérgio, essa fábrica aí pra nós é tudo, Uma fábrica pronta dessa! Em seis meses…’
Pergunta: Por que a BR Food não tinha?
Saud: Nós fomos muito rápido e chegamos lá pro Sérgio e falamos: «Sérgio, arruma essa fábrica pra nós aí! Vê quanto que é isso, a gente ajuda aí, como é que faz, como é que não faz. Eu coloco essa fábrica em funcionamento dentro de seis meses». Ele falou: «Estuda lá essa fábrica, porque inclusive tem um projeto lá de bacia leiteira do estado, feito pelo secretário de Agricultura, porque o povo lá tá quase matando, porque mandei eles produzir muito leite, agora não tão tendo leite, o preço tá baixo porque não tem indústria, quem compra?». Eu falei: «Então vamos juntar o útil ao agradável. Vamos fazer esse negócio?» «Vamos. Vamos fazer sim». Eu falei assim: «Você tem peito de tomar isso da BR Food? O Abílio Diniz… você tem peito?» «Eu tenho peito, vou mandar revogar isso.» «Se você revogar, nós estamos dentro.»
Voltei, conversei com o Joesley, o Joesley pediu para fazer uma reunião com a nossa turma lá e tal. Pô, ganhar uma fábrica dessa de graça? Num momento desse? Melhor coisa que tem. Nós acabamos gerando lá. Hoje a fábrica é nossa, tá escriturada pra nós. Falei: «Sérgio, fechado. Tal dia vou inaugurar a fábrica, me dá a documentação». Isso foi feito. «E eu quero continuar com os incentivos fiscais que vocês deram para a BR Food. Com o mesmo contrato deles.» Isso foi assim, nós nem acreditávamos nisso. Acabou saindo. Uma fábrica que devia valer na época uns, eu não sei o valor, mas sei que é muito.
Pergunta: A BR Food não cobrou nada, não entrou na justiça?
Saud: Não. Eu não entendi qual foi a negociação. Posso falar que para nós foi um dos grande negócios que nós fizemos.
Pergunta: Mas é normal assim? A BR Food aceitou isso tranquilamente? Não foi cobrado de vocês nada?
Saud: Não, nós não entendemos até hoje o que aconteceu. Sei que ninguém nunca reclamou, está funcionando e cinco mil empregos diretos e indiretos. pagamos nossos impostos religiosamente em dia. Esquisito. Foi esquisito, mas foi verdade.
Em outro trecho, Saud fala sobre os valores da propina cobrada pelo ex-governador do estado, que está preso em Bangu e responde a oito processos na Operação Lava Jato.
Saud: Eu falei: «Tá bom, Sérgio. Como é que vai ser isso? O que nós temos que pagar aí, qual é a propina, como é que é, que não é?». Ele falou: «Oh, Ricardo. A única coisa que preciso fazer é ganhar a eleição» Era… Ele já tinha ganhado a reeleição, era a eleição do Pezão [Luiz Fernando, atual governador do Rio]. «Eu preciso ganhar a eleição, a única coisa que eu preciso é de dinheiro e de tempo na televisão, de partidos». Eu falei: «Oh, Sérgio, seguinte, dinheiro se nós chegarmos num acordo, essa propina aí eu posso te dar. Agora, tempo de televisão, eu não sou dono de partido nenhum». «Mas você tem influência, você pode chamar os partidos aí pra negociar, para fazer alguma coisa pra me ajudar aqui e tal.» «Isso eu posso, desde que não faça parte do acordo. Tá bom»
«Então quanto que é isso, Sérgio?» Ele falou: «Vamos ficar aí entre 30 e 40 milhões de propina». Eu falei: «Você está louco, que isso? Não, mas a fábrica vale 100 milhões! Não tem nada a ver. Então, deixa isso parado aí.» Aí, acabamos chegando em 30 milhões. Entre 25 e 30. Acabamos fechando em 27 e 500. Esse dinheiro nós fechamos e foi pra eleição, uma parte grande para a eleição do Pezão e uma parte grande para a eleição dos candidatos a deputados dele lá. Ele tinha interesse de fazer vários deputados, até porque a gente tá vendo aí hoje vontade de se cercar.
Pergunta: Pezão participou dessa negociação?
Saud: Não. Não posso ser injusto com o Pezão. Eu tive com Pezão algumas vezes e nunca tratei… Até porque eu não consigo… Eu não tratei um centavo com Pezão. Pode ter acareação também, porque eu nunca tratei nada com ele.
Pergunta: Como é que foi distribuído esse dinheiro?
Saud: Aí, o Sérgio falou: «Oh, Ricardo, eu tô começando a campanha do Pezão, estamos na fase de escolher o vice e tal e eu preciso de tempo de televisão. Você precisa trazer um ou dois partidos, além disso». Falei: «Posso te apresentar alguns presidentes de partido, que você já conhece, e falar que nós damos a garantia que se você fizer algum tipo de negócio, você… Nós vamos pagar mesmo entre 20, 30 milhões. Aí, então tá bom, vamos começar a lista dos partidos». Aí, fui embora. Voltei daí três, quatro dias. Ele falou: ‘Não, não, não. Você me dá o dinheiro e eu resolvo o problema, o resto.» Eu falei: «Graças a Deus».
Aí nós fizemos essa distribuição da seguinte forma. Ele que mandou distribuir… Todas as formas foi ele que fez: 20 milhões de propina dissimuladas em doações oficiais. Você quer as datas e os comitês financeiros?
Pergunta: Só para entender, foi tudo no segundo semestre de 2014?
Saud: A partir de julho.
Pergunta: Fala pra gente os valores e pra onde foi.
Saud:
R$ 5 milhões para o PMDB do Rio de Janeiro. Comitê financeiro único. Quando a gente fala comitê financeiro único, nós estamos falando da campanha do Luiz Fernando Pezão.
29/07/2014 – 1 milhão 660 para o comitê financeiro único também do PMDB do Rio de Janeiro.
29/07/2014 – 900 mil para o PDT. Aí começou a compra dos partidos, está entendendo? R$ 900 mil para o PDT.
05/09/2014 – 1 milhão para Comitê único de campanha.
R$ 1,44 milhão, comitê financeiro único.13/10/2014
Comitê financeiro único, 2 milhões e meio: 17/10/2014
5 milhões para PMDB, comitê financeiro único: 27/10/2014
2,5 milhões para PMDB do Rio de Janeiro – 23/10/2014
Aí, foi 20 milhões. Os outros 7 milhões e meio foi tudo em propina. Desculpa, propina tudo foi. Foi em espécie, em dinheiro vivo, que foi distribuído da seguinte forma:
Em 20/09/2014 e 01/10/2014, 2,44 milhões.
E depois no dia 23/10, 5 milhões. Ambos entregues ao secretário Hudson Braga.
Pergunta: Quem entregou pra ele?
Saud: Oswaldo.
Pergunta: Aonde o Oswaldo entregou para ele?
Saud: Rio de Janeiro.
Pergunta: A seu mando?
Saud: A meu mando. Ele só coletou o dinheiro e já entregou.
O que dizem os citados?
O governador Luiz Fernando Pezão disse que não vai comentar. O PDT do Rio negou as declarações do delator. Disse que apoiou a candidatura de Pezão sem compra do partido. A defesa de Cabral informou que só vai se manifestar na Justiça.
O PMDB não retornou as nossas ligações. Nós não conseguimos falar com a defesa de Hudson Braga.
A BRF informou que, por uma mudança em sua estratégia de negócios , desistiu da fábrica em Barra do Piraí. Informou ainda que a fábrica foi devolvida em 2014 para o governo do estado e que todo prejuízo com o edifício e as benfeitorias foi assumido pela empresa.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/cabral-recebeu-r-275-milhoes-em-propina-por-fabrica-em-pirai-diz-delator.ghtml

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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