Valorização do produto foi de 3,7% na primeira quinzena de fevereiro, segundo o Cepea; preços baixos e aumento nos custos têm desestimulado produção
O aumento de 3,7% no preço do leite UHT na primeira quinzena de fevereiro trouxe certo alívio ao setor e pode sinalizar a retomada de preços no campo, que tem tido quedas consecutivas desde o ano passado, segundo a analista do Cepea Natália Grigol. “O leite UHT é o derivado mais consumido do Brasil e um dos pilares de formação de preços do leite no campo, servindo como um termômetro para o setor”, afirmou no Boletim do Leite. No atacado em São Paulo, o valor médio do UHT passou de R$ 1,96/litro em 1º de fevereiro para R$ 2,03/ litro no dia 15 de fevereiro, se aproximando do patamar verificado no início de dezembro de 2017.
Essa tendência de alta vem sendo verificada desde a segunda quinzena de janeiro e, segundo pesquisas do Cepea realizadas com o suporte financeiro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), está relacionada à busca das indústrias em recuperar a margem, que segue apertada desde o ano passado. Para Natália, a manutenção da valorização do UHT em fevereiro também sinaliza maior equilíbrio entre oferta e demanda. Apesar do consumo continuar enfraquecido, em especial por causa das férias e do Carnaval, o aumento das cotações do leite tem sido absorvido sem a necessidade de promoções, como vinha acontecendo.
Já no campo, os baixos preços e a alta nos custos têm desacelerado a produção. Mesmo com o verão sendo um período de maior captação, o levantamento do Cepea sobre o mercado em fevereiro – ainda em andamento – tem confirmado a tendência de crescimento controlado da produção. “O menor volume no campo deve refletir no processamento de lácteos, aliviando pressões de estoque do UHT e possivelmente mantendo a tendência de alta nos preços”, diz a analista no boletim.
Em janeiro, o valor pago ao produtor na “média Brasil” – sem frete e sem impostos, que tem como base BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS – caiu 1,74% ante dezembro, ficando R$ 0,9832/litro, menor patamar real desde fevereiro de 2010.
Já os custos de produção começaram o ano em alta. De dezembro/17 para janeiro/18, o custo operacional efetivo (COE), que considera os gastos correntes da propriedade na “média Brasil” subiu 0,88% e o custo operacional total (COT), que engloba pró-labore e depreciações, teve alta de 0,81%, conforme o Cepea. “A elevação nos custos esteve atrelada, principalmente, às valorizações dos concentrados, da suplementação mineral, dos combustíveis e da mão de obra. Por outro lado, a queda de 4,16% nos custos da construção civil e de 0,93% nos preços das sementes forrageiras limitaram o movimento de alta do COE e do COT”, explica o analista Caio Monteiro no relatório.
O preço do concentrado (22% de PB) registrou alta de 1,17% em janeiro na “média Brasil”. Segundo colaboradores do Cepea, esse reajuste é consequência da recente valorização do milho no mercado interno. A relação de troca média do concentrado em janeiro foi de 56,06 litros de leite para se adquirir uma saca de 40 kg. Em janeiro de 2017, a relação era de 51,75 litros, ou seja, houve diminuição do poder de compra, que, por sua vez, está relacionada diretamente com a queda na receita do produtor.
O aumento de 2,39% nos preços dos combustíveis na “média Brasil” em janeiro também influenciou o aumento nos custos de produção. Essa foi a sexta valorização consecutiva do insumo – desde agosto de 2017, a valorização acumulada é de 12,55%. Já a redução da alíquota do Funrural – de 2% para 1,2% (sem contar Senar e Risco Ambiental do Trabalho) – a partir de janeiro reflete positivamente na margem do produtor.
Mercado externo – As importações de lácteos caíram 14,2% em janeiro em relação à dezembro do ano passado e 57,3% na comparação com janeiro de 2017. No total, o país comprou 64,6 milhões de litros em equivalente leite no mês. De acordo com Lucas H. Ribeiro, analista do Cepea, as compras externas foram limitadas pela demanda doméstica enfraquecida, principalmente para leite em pó e queijo muçarela.
O principal produto de importação segue sendo o leite em pó. Foram 42,4 milhões de litros em equivalente leite importados no mês. Os países que mais exportaram esse produto para o mercado nacional foram a Argentina (74,5% do total) e Uruguai (12,3%).
Em relação às exportações, segundo o Cepea, 5,3 milhões de litros em equivalente leite foram negociados no mercado internacional, volume 33,7% menor que o do mês anterior e 51% abaixo do de janeiro de 2017. Quanto à receita obtida com os embarques, a queda foi de 27,9% em relação a dezembro e de 51,1% comparado ao primeiro mês do ano anterior. Os queijos estão em primeiro lugar dentre os principais produtos exportados, com 2,3 milhões de litros em equivalente leite (43,3% do total embarcado) em janeiro, queda de 15,9% em relação ao mês anterior. Os principais países a adquirir o produto foram Taiwan (19,6% do total), Chile (19,3%) e Rússia (16,2%).
No saldo da balança comercial, houve déficit de 59,3 milhões de litros em equivalente leite em janeiro, redução de 11,9% frente a dezembro. Porém, devido à importação de lácteos de maior valor agregado, a redução do déficit da balança comercial em valor foi de 1,2%, com saldo negativo de US$ 25,2 milhões.